Dienstag, 17. April 2007

Virtual? Realidade.

Depois do massacre de ontem na Virginia Tech, o choque continua, agora com as reacções. Entre os ecos da imprensa, alguém afirma que se os alunos estivessem armados, o número de vítimas teria sido menor. Mas ninguém ainda perguntou porque é que um jovem de 23 anos precisa de uma arma, e, pior ainda, como é que conseguiu comprar legalmente não uma, mas duas.
Se os alunos estivessem armados, teriam travado Cho a tempo. Mas a que preço? Uma arma não é uma garantia de ética social, é um instrumento de poder efectivo, irreversível e quase sempre mais rápido do que a mente que a controla. Em retrospectiva, a solução é computacionalmente eficaz. E em perspectiva? Que garantia há que o jovem que atira para se defender não possa atirar sem precisar de motivo? E que espécie de sentimento evoca esta corrida às armas para evitar a violência?
Episódios como este são trágicos, mas a discussão que se lhes segue é assustadora. Este acontecimento acentua a desconfiança que é evidente, ao fim de algum tempo aqui, no quotidiano: desde a pessoa no passeio que sempre cumprimenta com um sorriso e um olhar perscrutinador, ao small talk numa loja ou espaço público. Como se a comunicação exorcisasse ou prevenisse alguma intenção agressiva do outro.
É mais uma ocasião para repensar a espiral de segurança, um cerco que aperta cada vez mais o cidadão comum limitando-o na sua liberade e tornando-o suspeito até prova em contrário. Em si um motivo para inspirar extremismos.
Chan tinha o perfil típico de um sociopata: era calmo, sozinho e escrevia textos perturbantes nos seminários de inglês. Com isso vai tornar difícil a vida de tantos outros estudantes com idênticas características. A estes não faltará o assédio da comunidade para uma sociabilidade forçada, sob pena de desconfiança e vigilância policial. Afinal, este é o país em que as notícias não terminam sem um tiroteio, uma agressão, um julgamento, em que se discute na rua o massacre com a mesma linguagem das séries policiais, em que o cidadão comum é convidado todas as semanas numa série de TV a denunciar anonimamente um culpado.
É assustadoramente ténue aqui a fronteira entre realidade e ficção.

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