Freitag, 8. August 2008

Brandos? Costumes

Acordo com o despertador ligado na NPR (National Public Radio) para ouvir as notícias. Tenho depois por hábito passar os olhos pela imprensa alemã e portuguesa para comparar perspectivas e prioridades no encadeamento das notícias, e para saber daquelas que só têm interesse no país em causa.
Hoje fiquei perplexa com turbilhão de notícias e comentários a respeito do assalto ao BES em Lisboa. Confesso que quando vi a primeira notícia ontem nem dei grande importância, não sei se por serem poucas as pessoas envolvidas, ou, talvez mais provavelmente, por não acreditar realmente que um assalto a sério desta natureza pudesse acontecer em terra de brandos costumes. Talvez a estadia aqui nos US, onde coisas assim são rotineiras, ou o profundo repúdio pelo que os media aqui fazem desses casos, me tenham feito imaginar um Portugal lá longe, pequeno, onde estas coisas não acontecem e os escândalos do Telejornal se fazem mais com histórias de quintal ou greves às sextas-feiras.
Também não sei se o que me incomodou mais foi o assalto em si, a actuação da polícia, de uma inesperada eficiência quase americana, as declarações de felicitação do Ministro, que me parecem de mau gosto, pelo aproveitamento político (nem me lembrava do nome do Ministro!) ou se as extrapolações na imprensa. E nem comento os comentários publicados às notícias do Público (estamos ainda tão longe de ter uma opinião pública crítica e ponderada, como se vê por outros lados...)
Não sei o que os órgãos de comunicação estão a pensar fazer, mas estava na altura de por um ponto final na discussão exacerbada da imprensa e nos comentários do público nos canais de imprensa. Não sei se um formato "Prós e Contra", tantas vezes mais virado para a apresentadora ou para os convidados do que para o assunto em si, adiantaria. Mas valia a pena debater este assunto, em toda a sua complexidade. Porque há muitas perguntas que querem uma reflexão séria e uma resposta ponderada. Estamos preparados para estas situações que nos podem interromper assim o dia-a-dia e a vida? Podemos preparar-nos? Sabemos reagir? Como reagimos a esta eficácia da polícia? Ao seu aproveitamento político? E mediático? Há realmente necessidade de um directo sobre uma matéria tão sensível? Tenho dúvidas sobre a utilidade deste tipo de informação, sobretudo para as famílias das pessoas envolvidas. E mais dúvidas tenho sobre a utilidade deste tipo de directos para o público em geral.
Portugal deixou há muito de ser um país de brandos costumes. De resto, todo o mundo.

Montag, 4. August 2008

New York

Voltei a New York na semana passada, ao fim de um ano. É uma cidade fascinante, que começo a chamar um pouco minha, por me reencontrar em lugares e em coisas que a cidade convida a fazer.
Todos os estereótipos sobre a cidade são absolutamente verdadeiros. O movimento é como nos filmes, o skyline também denuncia o grande ecrã. Mas há coisas que só se experimentam quando se caminha por Manhattan. Dois sons que para mim se confundem com a cidade são o bater regular e fluido do metro que me chega das grelhas nos passeios, e as sirenes de emergência que ecoam com exclusividade no canyon dos arranha-céus.
Depois há a excentricidade tão característica da metrópole, em que os 8 milhões que lá vivem já nem reparam. Como um homem a empurrar um carrinho de bebé por Chelsea, de onde espreitam dois cães de raça. Ou a miúda de 20 e poucos anos que se passeia de flip flops pela 5ª avenida, de sacos Luis Vuitton, Channel e afins nos braços. Ou os rappers no metro, os skateboarders a agitar as folhas no Central Park, os helicópteros como besouros no céu de Downtown, os pintores de fim-de-semana em concorrência frente à Lady Liberty, e os críticos mais ou menos sérios que por lá passam a dar as suas dicas.
Depois há os museus, onde me apresso para reencontrar os quadros que ainda me lembro em que lugar exacto deixei. Ou os cafés de onde aprecio um colorido incessante de pessoas à frente e atrás do amarelo dos táxis. A cacofonia de quem mora e de quem visita, a poluição de brilho a correr nos painéis de Times Square.
E depois há aquela sensação de se ser único numa cidade única, de imaginar como foi construir tudo aquilo tão cedo (nos anos 30, o Empire State Building já tinha batido o record. Onde estávamos, em Lisboa?!) e de saber que toda a gente se rende a esta metrópole do mundo, o que me faz sentir a par de figuras globais de política, das artes, do showbiz. Poderá ser pretensão, mas é uma sensação fabulosa!
Até à proxima!