Ainda a propósito da votação que elegeu Salazar o grande português. Parece-me que as leituras do resultado são no mínimo tão limitadas como a ideia do inquérito. Sugere-se que se tratou de um voto de descontentamento, uma espécie de analogia à rejeição da constituição europeia na Holanda e em França. Ou seja, porque estamos descontentes com o presente, provocamos, ressuscitando os fantasmas do passado. Outra hipótese é a de que o voto não é representativo, o que é verdade. Mas o voto nem por isso deixa de ser expressivo. Depois, tenta-se desacreditar quem votou com rótulos de ignorância.
Porque elegeram os portugueses Salazar? A resposta simples parece ser porque sentem nostalgia do tempo passado, que só parcialmente recordam. Ou seja, naquela altura não havia desemprego, protestos, crime, e a vida era muito mais fácil, portanto melhor.
Claro que havia a questão da liberdade ou da falta dela, mas essa só afectava uma minoria. Uma minoria que em vão se procura hoje. Onde estão os políticos de carisma, os ideólogos, os intelectuais (num sentido que não é pejorativo)?
Eu creio que nesta procura de causas, os portugueses não estão tão errados como isso. Ao cortar a liberdade, o Estado Novo tornou-a importante o suficiente para que valesse a pena lutar por ela. O voto por Salazar pode assim ter outra leitura. É a escolha nostálgica do motivo que nos levou a mostrar coragem, a arriscar o exílio a favor de uma ideia, a mostrar ao mundo que o vermelho de uma revolução não precisa ser de sangue.
Freitag, 6. April 2007
Utopias
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