Sonntag, 27. April 2008

Estações?

Diz-se por aqui que o Outono é muito bonito, ameno, e cheio de cores quentes. Depois, vem o Inverno, longo, muito longo, branco e frio. O Verão é muito quente e húmido e traz muitas trovoadas. A Primavera calha normalmente à quarta-feira.

Sonntag, 20. April 2008

Chicago

Sexta-feira, quatro da tarde. No Millenium Park passeiam-se transeuntes em véspera de fim-de-semana, fazem planos ao telefone enquanto tiram a gravata. Entre eles, os turistas apontam as câmaras aos arranha-céus. Dois homens passam, de programa do concerto na mão. A orquestra repetiu o concerto, hoje mais cedo. Atrás deles, outro homem passa. Veste um fato preto a que o tremelinho dá um toque de festa. Traz uma pasta na mão. Senta-se na mesa ao lado, tira o tricôt e embrenha-se nas malhas com a concentração com que acabou de tocar Beethoven.

A cidade acondicionada numa superfície convexa. Extraordinariamente simples, a escultura vive do que mostra, do que sugere. Tocá-la, fotografá-la é pisar o risco entre o ser e o parecer, entre o que vejo e como é ver-me de fora.



Não sabia que van Gogh tinha o quarto em Chicago. Ao entrar na sala, o impacto é quase um susto. Como se fosse um velho conhecido que não adivinhasse aparecer assim de surpresa nesta cidade desconhecida.



Uma descoberta: Esa-Pekka Salonen, maestro. E compositor. O concerto para piano é surpreendente, intenso, intemporal na sua contemporaneidade. A conhecer.



Nem as esculturas espalhadas por recantos a que não ousaria chamar praças afasta a impressão de ser engolida pela cidade. Intimidantes estes edifícios que concorrem em altura, deixando adivinhar a maratona por trás de cada janela.

Samstag, 5. April 2008

A última fronteira


Loucura ou lucidez, é admirável a determinação e a certeza que levam Chris, alias Alex Supertramp, a voltar costas a um futuro cheio de possibilidades e a separar-se de tudo o que o liga à família e à sociedade rumo ao Alaska. O que lá vai fazer é curiosidade que só assalta quem ele vai encontrando em meses de caminho. Ele sabe porque vai e que tem de ir. E enquanto o caminho se vai fazendo mais curto, Chris vai tocando e mudando algumas vidas.

Quem é Chris? Na resposta espera-se encontrar uma motivação suficientemente forte que justifique esta vontade extrema. Há vidro familiar, idealismo de juventude, leituras subversivas. Mas é mais do que isso o que chama Chris à condição primordial de imersão na natureza e de sobrevivência em absoluta autonomia, contando apenas com a cabeça e as mãos.

Mais de uma centeza de dias depois, Chris está pronto a voltar, quando descobre que o rio depois do degelo é intransponível. A natureza prendeu-o e por capricho escreveu-lhe o fim inevitável da história. Os últimos registos do diário que o acompanha deixam saber que teve medo e que se sentiu sozinho. Que a felicidade só faz sentido quando partilhada.

É inevitável pensar o que teria acontecido se o rio tivesse menos urgência e se acomodasse num leito mais estrito. Possivelmente um filme mais kitsch, talvez nenhum filme.

O que fez então Chris decidir voltar é o que cada um procura encontrar no fundo da dúvida. E essa resposta não se dá num filme. Procura-se na vida. Talvez se encontre.