Dienstag, 27. Februar 2007

Neo ou kitsch?


A história da arte assenta numa antinomia, que ainda não está resolvida. Por um lado, a arte é intemporal: as orquestras reproduzem por toda a parte o Adagietto de Mahler, o Requiem de Mozart, a nona de Beethoven; os quadros de Monet viajam pela enésima vez para mais uma exposição, enquanto milhares de visitantes fixam o olhar no sorriso mais famoso do Louvre; as pirâmides - egípcias ou maias - vêem fascinando gerações ao longo de séculos.

E no entanto, se a alguém ocorre continuar onde os criadores destas obras pararam - isto é, compondo como Mahler ou pintando como Da Vinci - mesmo que o faça com a convicção ingénua de que aqueles são exemplos a seguir, os resultados inspiram no mínimo um encolher de ombros enfadado, ainda que o novo artista seja exímio na técnica. Isto acontece porque a arte, sendo intemporal, é histórica.

Paradoxo? Sem dúvida.

Porque é que continuamos a ouvir Beethoven e não consideramos um músico que hoje resolva compor como ele, mesmo que o faça com todo o rigor e seriedade?
Imagine-se que a alguém ocorria construir um sucedâneo da torre Eifel.

Uma hipótese pode ser a intencionalidade. A diferença entre a orquestra que toca Beethoven hoje e o músico que compõe como Beethoven é que a primeira não se substitui ao compositor. Da mesma forma que a orquestra romântica interpretava as obras, também as orquestras de hoje o fazem, independentemente de quem as escreveu. Já o músico coloca-se na mesma posição intencional do compositor, identifica-se com ele, substitui-o. E esta ousadia não é admissível.

Por outro lado, o compositor de hoje não pode compor como Beethoven, como se o que se lhe seguiu - de Schubert a Schönberg - não tivesse existido (como não tinha existido para Beethoven).

Ao músico restam então dois caminhos: pode ser levado a sério se a sua intenção for vista como uma paródia ou ironia, em contextos em que esta finalidade seja clara; ou então a sua criação, independentemente de toda a mestria ou verdade, será relegada ao kitsch.

Intemporal, mas histórica. É esta antinomia o motor da história da arte, da sucessão de estilos e escolas. Um artista inventa uma nova criação com o intuito de originalidade. Por ser bom, o modelo logo é copiado pela sua geração, que o reinventa sem lhe alterar a essência. Para chegar de novo à originalidade, há que inventar outra expressão. E a sucessão deste ciclo dita a história da arte.

Resta saber em que é que os movimentos neo superaram o pardoxo e se estabeleceram como movimentos legítimos, distintos das linguagens originais de forma subtil, mas firme.

Sonntag, 25. Februar 2007

And the oscar goes to...

Melhor filme estrangeiro: Das Leben der Anderen, de Florian Henckel von Donnersmarck

Pan

Uma história de fadas para adultos.

Freitag, 23. Februar 2007

Monet e a Normandia em Cleveland


A exposição recapitula a ligação de Monet com a normandia, o fascínio do mar, a busca da luz, a sugestão da forma, a verdade da cor. Quase tão fascinante como olhar os quadros é ler os textos que os acompanham. Para descrever a pintura são necessárias todas as outras artes.

Wheat Field, 1881
Deceptive in its apparent simplicity, the painting is masterful in its formal choreography.

Waves at the Manneporte, 1883
Staccato brushstrokes record the momentary effects of sunlight striking the inner face of the arch.

The Sea at Fécamp, 1881
To capture this view, the artist descended to the base of the cliffs… The artist – as well as the viewer – is not only a spectator of nature, but a protagonist watching the sea and wind.

By the Sea at Fécamp, 1881
The wilderness of the stormy weather is reflected in the savagery of Monet’s brushstrokes.

Water Lilies
To capture these ephemeral effects, he developed an increasingly duo-dimensional vocabulary that moved beyond Impressionism towards an entirely modern way of envisioning painting.

Donnerstag, 15. Februar 2007

Lugar Incomum


O traço era familiar e lembrava Düsseldorf, em versão menos contida. Afinal sempre foi o mesmo Frank O'Gehry o autor do projecto. O Peter Lewis Building, assim chamado em honra do mecenas, alberga a escola de gestão da Case Western Reserve University. É um espaço que desafia as convenções e convida ao alternativo. Aprecio o inesperado, embora me constranja o peso dos tectos.


A provocação de Gerry tem mais subtileza nas margens do Reno.

Mittwoch, 14. Februar 2007

Branca de Neve

Claustrofobia ao ar livre, perder o pé a caminhar. E o fascínio irresistível de pisar o manto por estrear, a cada passo um começo, sem olhar para o trilho que desmanchou a promessa. Infantil e irresistível!
Dia de S. Valentim. A neve estragou os planos a quem encomendou entregas de balões, flores, mensagens e outras extravagâncias. Há quase um mês que o mundo (!) se prepara para este dia. As flores nas lojas, os corações na padaria, a música na rádio, a publicidade cor-de-rosa, os eventos de todos os tamanhos, a inquisição ensurdecedora: Já comprou o seu presente? Não se esqueça do seu Valentim! Procura ideias? Temos tudo o que precisa!
Lembra o Natal. Em king size, como tudo por aqui.
A neve voltou a cair, a preparar-me o tapete para o passeio de amanhã.

Sonntag, 11. Februar 2007

Notes on a Scandal


"Mind the gap between the life you wish and the life you live."
Duas poderosas interpretações de duas excelentes actrizes num filme sobre solidão, afecto, segredos, limites. O bem e o mal não se separam numa linha categórica e é impossível não simpatizar com as duas personagens, mesmo apesar dos seus erros. Ou talvez por eles, por revelarem o lado frágil da sua humanidade. A ver.

Samstag, 10. Februar 2007

Bálsamo


Depois de anos a ler apenas em português e alemão, com o inglês reservado às leituras de trabalho, cedi finalmente espaço a esta língua nas minhas leituras por prazer.
A minha ignorância dos autores contemporâneos americanos é grande, e por isso aceito a sugestão subjectiva de terceiros.
O romance conta a história de Lilly Owen, uma adolescente de 14 anos que vive na Georgia com o pai, a quem trata por T. Ray (Daddy não condiz com ele), com a recordação da mãe, que viu morrer aos quatro anos, e com a culpa de a ter morto ao pegar acidentalmente numa arma, durante uma discussão dos pais, motivada pela decisão da mãe de abandonar T. Ray. Na mesma casa mora a negra Rosaleen, ama de Lilly, que se prepara para ir à cidade registar-se para votar. A caminho, responde aos insultos de alguns homens brancos que as vêem passar, e as duas acabam na prisão da cidade. Lilly sai passadas algumas horas. Rosaleen fica e é agredida pelos mesmos homens, acabando internada no hospital. Ao inteirar-se da situação, e depois de uma discussaõ com T. Ray, que lhe afirma que a mãe a abandonara a ela também, Lilly resolve sair de casa, levando consigo as poucas recordações da mãe que guarda: umas luvas brancas, uma fotografia e uma imagem de uma Virgem negra, com um nome de uma terra por trás: Tiborun S.C. Lilly dirige-se ao hospital e ajuda Rosaleen a fugir, e ambas dirigem-se a Tiborun, onde Lilly espera descobrir mais coisas sobre a mãe. Em Tiborun, uma feliz coincidência leva-as à casa cor de rosa das irmãs com nomes dos meses do calendário: May, June e August. Esta última produz mel, que vende em frascos com a mesma Virgem negra no rótulo. As irmãs resolvem acolher Lilly e Rosaleen, embora saibam que estas escondem a verdadeira razão da sua presença ali. Lilly e Rosaleen passam um Verão sereno e feliz no ambiente em que vivem as irmãs. Lilly inicia-se na arte da apicultura e nos segredos da vida das abelhas, e aprende a pouco e pouco que a vida se parece com a existência nas colmeias.
O final é previsível, mas está bem contado. Algumas reflexões e palavras de Lilly são demasiado amadurecidas para os seus 14 anos, mas acedemos a deixar a assimetria de parte. E toda a narrativa decorre sobre o pano de fundo da América do final dos anos 60, feita de problemas raciais e sociais, dos desafios da ciência que levaram o homem à lua, do misticismo excêntrico de rituais caseiros, e de paisagens cheias de cores, sons e cheiros longínquos.
Reconcilio-me com a leitura em inglês.

Sonntag, 4. Februar 2007

2ºF

Ou -17ºC.
O Inverno mais frio dos últimos 7 anos em Cleveland.