
Sonntag, 22. April 2007
Dienstag, 17. April 2007
Virtual? Realidade.
Se os alunos estivessem armados, teriam travado Cho a tempo. Mas a que preço? Uma arma não é uma garantia de ética social, é um instrumento de poder efectivo, irreversível e quase sempre mais rápido do que a mente que a controla. Em retrospectiva, a solução é computacionalmente eficaz. E em perspectiva? Que garantia há que o jovem que atira para se defender não possa atirar sem precisar de motivo? E que espécie de sentimento evoca esta corrida às armas para evitar a violência?
Episódios como este são trágicos, mas a discussão que se lhes segue é assustadora. Este acontecimento acentua a desconfiança que é evidente, ao fim de algum tempo aqui, no quotidiano: desde a pessoa no passeio que sempre cumprimenta com um sorriso e um olhar perscrutinador, ao small talk numa loja ou espaço público. Como se a comunicação exorcisasse ou prevenisse alguma intenção agressiva do outro.
É mais uma ocasião para repensar a espiral de segurança, um cerco que aperta cada vez mais o cidadão comum limitando-o na sua liberade e tornando-o suspeito até prova em contrário. Em si um motivo para inspirar extremismos.
Chan tinha o perfil típico de um sociopata: era calmo, sozinho e escrevia textos perturbantes nos seminários de inglês. Com isso vai tornar difícil a vida de tantos outros estudantes com idênticas características. A estes não faltará o assédio da comunidade para uma sociabilidade forçada, sob pena de desconfiança e vigilância policial. Afinal, este é o país em que as notícias não terminam sem um tiroteio, uma agressão, um julgamento, em que se discute na rua o massacre com a mesma linguagem das séries policiais, em que o cidadão comum é convidado todas as semanas numa série de TV a denunciar anonimamente um culpado.
É assustadoramente ténue aqui a fronteira entre realidade e ficção.
Freitag, 13. April 2007
Carta da Carolina
Donnerstag, 12. April 2007
Tristes notícias
não acreditava que o dia destes chegasse. E agora, Março de 2007, veio com a brutalidade de uma explosão no peito. Não imaginava que fosse assim, tão doloroso e, ao mesmo tempo, tão pouco digno como a velhice e a decadência. Tão reles. O olhar de pena dos outros, palavras de esperança em que não têm fé, dúzias de histórias de criaturas que passaram por isso que tu tens agora e estão óptimas. Recuperando aos poucos da anestesia vou dando-me conta de que um bicho horrível em mim, ratando, ratando. Dois sentimentos opostos- Vou lutar, não vou lutar
e o primeiro fala antes do outro- Chamem o Henrique
um grande cirurgião, um colega de curso, um amigo, uma das muito poucas pessoas a quem entregaria sem hesitações o meu corpo. Este texto talvez vá um pouco desconexo, desculpem, ainda estou fraco, a cabeça tem lacunas, falta-me vocabulário, há mais de nove dias que não pegava numa caneta e é difícil reaprender a andar. O meu medo que o Henrique não pudesse. Mas disse a quem lhe fala- Eu vou já lá abaixo
e enquanto me faziam uma TAC vi-o atrás do vidro, sério, a apertar a boca. Depois veio ter comigo- Opero-te amanhã de manhã
e queria que soubesses, Henrique, a esperança que as tuas palavras me trouxeram. Não só esperança: o que não sei dizer. Ou antes sei mas tenho vergonha. Contento-me em pensar que tu sabes também. Sei que sabes. Basta a maneira de protestares, de mão contrariada- Não me agradeças, não me agradeças basta o teu afecto pragmático diante das minhas perguntas- Uma coisa de cada vez
o modo como me disseste- Eu trato-te
como diante da minha aflição, aflição sim senhor, deixemo-nos de tretas- E se houver metástases no fígado?- Eu tiro-as
e eu tentando pôr-me no teu lugar pensando como deve ser penoso operar um amigo. Um amigo desde os dezoito anos. Em como deve ser penoso, em como deve ter sido penoso para o Henrique trabalhar com uma carga afectiva em cima dele, naquelas circunstâncias. Mexeu-me todo: tirou a vesícula, tirou o apêndice, até as glândulas seminais andou a ver. Isto há dez dias, onze dias. Escrevo do hospital onde estou, é a primeira vez que uma pessegada destas me sucede.Magro, magro. Com uma algália ainda: é uma sorte que uma algália ainda, tive mil trezentos e seis tubos a saírem de mim. Espero que na revista entendam a caligrafia tremida da crónica. Suceda o que suceder, uma coisa tenho por certa: isto alterou, de cabo a rabo, a minha vida.
Ignoro em que sentido, ignoro como. Sei que alterou. Santa Maria. O que farei daqui para a frente, se existir daqui para a frente? Livros, claro, foi para isso que me mandaram para o meio de vós. Quando isto sucedeu lutava com um, tinha outro pronto, já antigo, pronto há um ano e tal, para Outubro. Para dar tempo aos tradutores de o traduzirem e saírem mais ou menos na mesma altura que em Portugal. Esse livro tem a melhor prosa que fiz até hoje, parece recitado por um anjo. Aquele em que trabalhava é apenas um embrião, cerca de metade do primeiro esboço, falta-lhe quase tudo. A partir de agora, se calhar, falta-lhe tudo. Voltarei a ele? Uma coisa de cada vez, não é Henrique? Vamos a ver. De uma forma ou outra a gente luta sempre. Momentos de quase esperança, momentos de desânimo. Não: momentos de muito desânimo e momentos de desânimo maior, como se me obrigassem a escolher entre o que não vale nada e o que vale ainda menos. Este mês deram-me um prémio literário. Estão sempre a dar-me prémios e claro que tenho prazer nisso, não sou mentiroso nem hipócrita. Toda a gente foi muito simpática
e sem que eles sonhassem(sonhava eu)
o cancro ratando, ratando, injusto, teimoso, cego. Mói e mata. Mata. Mata. Mata. Mata. Levou-me tantas das pessoas que mais queria. E eu, já agora, quero-me? Sim. Não. Sim. Não - sim. Por enquanto meço o meu espanto, à medida que nas árvores da cerca uns pardais fazem ninho. A primavera mal começou e eles : truca, ninho. Obrigado, Senhor, por haver futuro para alguém.
«Crónica do Hospital», Visão, 12 de Abril de 2007
Samstag, 7. April 2007
Americano

Freitag, 6. April 2007
Utopias
Ainda a propósito da votação que elegeu Salazar o grande português. Parece-me que as leituras do resultado são no mínimo tão limitadas como a ideia do inquérito. Sugere-se que se tratou de um voto de descontentamento, uma espécie de analogia à rejeição da constituição europeia na Holanda e em França. Ou seja, porque estamos descontentes com o presente, provocamos, ressuscitando os fantasmas do passado. Outra hipótese é a de que o voto não é representativo, o que é verdade. Mas o voto nem por isso deixa de ser expressivo. Depois, tenta-se desacreditar quem votou com rótulos de ignorância.
Porque elegeram os portugueses Salazar? A resposta simples parece ser porque sentem nostalgia do tempo passado, que só parcialmente recordam. Ou seja, naquela altura não havia desemprego, protestos, crime, e a vida era muito mais fácil, portanto melhor.
Claro que havia a questão da liberdade ou da falta dela, mas essa só afectava uma minoria. Uma minoria que em vão se procura hoje. Onde estão os políticos de carisma, os ideólogos, os intelectuais (num sentido que não é pejorativo)?
Eu creio que nesta procura de causas, os portugueses não estão tão errados como isso. Ao cortar a liberdade, o Estado Novo tornou-a importante o suficiente para que valesse a pena lutar por ela. O voto por Salazar pode assim ter outra leitura. É a escolha nostálgica do motivo que nos levou a mostrar coragem, a arriscar o exílio a favor de uma ideia, a mostrar ao mundo que o vermelho de uma revolução não precisa ser de sangue.
Montag, 2. April 2007
Exercício

sig mig min gode man har du egentlig ikke
en bevidsthed hvordi tingene giver mening?
jeg spørger bare fordi jeg vil vide om og hvorvidt
det mon er umagen værd at sige noget absurd
uma consciência onde as coisas fazem sentido?
pergunto apenas porque quero saber se sim e até que ponto
jeg er, defor tænker jeg, og derfor er jeg,
man må være for at kunne tænke noget,
så gør man det, er man det, simpelthen
é preciso existir para pensar algo,
e ao fazê-lo, é-se, simplesmente
som jeg rejste fra, kender mig ikke mere, og hvis
jeg mødte dem på gaden, ville de ikke vide det,
jeg ville vide det og se på dem uden at møde dem
de quem me separei já não me conhecem, e se
as encontrasse na rua, não o saberiam,