A história da arte assenta numa antinomia, que ainda não está resolvida. Por um lado, a arte é intemporal: as orquestras reproduzem por toda a parte o Adagietto de Mahler, o Requiem de Mozart, a nona de Beethoven; os quadros de Monet viajam pela enésima vez para mais uma exposição, enquanto milhares de visitantes fixam o olhar no sorriso mais famoso do Louvre; as pirâmides - egípcias ou maias - vêem fascinando gerações ao longo de séculos.
E no entanto, se a alguém ocorre continuar onde os criadores destas obras pararam - isto é, compondo como Mahler ou pintando como Da Vinci - mesmo que o faça com a convicção ingénua de que aqueles são exemplos a seguir, os resultados inspiram no mínimo um encolher de ombros enfadado, ainda que o novo artista seja exímio na técnica. Isto acontece porque a arte, sendo intemporal, é histórica.
Paradoxo? Sem dúvida.
Porque é que continuamos a ouvir Beethoven e não consideramos um músico que hoje resolva compor como ele, mesmo que o faça com todo o rigor e seriedade?
Imagine-se que a alguém ocorria construir um sucedâneo da torre Eifel.
Uma hipótese pode ser a intencionalidade. A diferença entre a orquestra que toca Beethoven hoje e o músico que compõe como Beethoven é que a primeira não se substitui ao compositor. Da mesma forma que a orquestra romântica interpretava as obras, também as orquestras de hoje o fazem, independentemente de quem as escreveu. Já o músico coloca-se na mesma posição intencional do compositor, identifica-se com ele, substitui-o. E esta ousadia não é admissível.
Por outro lado, o compositor de hoje não pode compor como Beethoven, como se o que se lhe seguiu - de Schubert a Schönberg - não tivesse existido (como não tinha existido para Beethoven).
Ao músico restam então dois caminhos: pode ser levado a sério se a sua intenção for vista como uma paródia ou ironia, em contextos em que esta finalidade seja clara; ou então a sua criação, independentemente de toda a mestria ou verdade, será relegada ao kitsch.
Intemporal, mas histórica. É esta antinomia o motor da história da arte, da sucessão de estilos e escolas. Um artista inventa uma nova criação com o intuito de originalidade. Por ser bom, o modelo logo é copiado pela sua geração, que o reinventa sem lhe alterar a essência. Para chegar de novo à originalidade, há que inventar outra expressão. E a sucessão deste ciclo dita a história da arte.
Resta saber em que é que os movimentos neo superaram o pardoxo e se estabeleceram como movimentos legítimos, distintos das linguagens originais de forma subtil, mas firme.
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