Sonntag, 1. Juli 2007

A Europa em Portugal

Mapa da Europa por Gerardus Mercator, séc. XVI

Depois do dinamismo e do sucesso da presidência alemã da União Europeia, a herança é pesada para a presidência portuguesa. A lista de prioridades para os próximos seis meses reorienta a atenção dos 27 para o Mediterrâneo e para as duas margens do Atlântico sul, o que evoca algum cepticismo nos parceiros mais a norte. A juntar a isso, internamente Portugal está preocupado com a imagem. Literalmente, a julgar pelo lado visível da preparação, o site da presidência, em que até hoje se encontrava sobretudo informação turística sobre o país, suportada pelo design do logo nas cores nacionais de todos os parceiros alternando ao som de uma melodia futurista.
Hoje já assim não é: a música foi substituída pelos discursos.
A outra preocupação com a imagem traz laivos de vaidade, de querer deixar uma marca na história, de juntar a Lisboa o Tratado, depois da Estratégia. Um desejo legítimo, mas secundário ante o alcance da tarefa. Um consenso a 27 vozes não é fácil, como a recente história do Tratado (geb. Constituição) claramente mostra. E depois porque no coro há sempre timbres de dissonância, como mostrou recentemente a Polónia.
A cooperação transatlântica é estratégica, mas a estabilidade interna, a identidade da UE, é a sua condição primeira. É importante que a presidência portuguesa saiba distinguir entre o que foi Portugal antes da Europa, uma nação periférica com uma história voltada para o mar, do que hoje é o seu papel de parceiro activo no continente. E que saiba reconhecer que a união dos 27 é mais importante a longo prazo do que a fama (sempre relativa) de um só.
Portugal não se livrou ainda do "orgulhosamente sós" e tem uma necessidade permanente de se afirmar, o que com frequência confunde com efeitos especiais instantâneos (veja-se a Ota), em vez de procurar a estratégia mais sustentável, que trará o devido reconhecimento a seu tempo. Impõe-se por isso a necessidade de manter o dinamismo e a concentração de Berlim. A continuidade eficiente do work in progress europeu é a prioridade do momento. Esta poderá bem ser a marca que a presidência portuguesa de 2007 pode deixar na história da UE. Uma glória nada pequena ante a grandeza da tarefa.

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