
Depois da onda de (n)ostalgia de
Goodbye Lenin ou
Sonnenallee,
Das Leben der Anderen abandona o olhar melancólico sobre a DDR, à la "those were the days", para dar conta de uma realidade que decerto a poucos deixou saudades, depois da queda do muro: a polícia secreta, a repressão, a desconfiança, o medo. Em síntese, o que caracteriza uma ditadura, de esquerda ou de direita.
A acção decorre em Berlim oriental, em 1984. O Comandante da Stasti Gerd Wiesler (Ulrich Mühe) é incumbido de vigiar o escritor Georg Dreyman, em resultado de uma intriga do ministro Bruno Hempf, que quer afastar Dreyman para ficar com a sua companheira, Christa-Maria Sieland (Martina Gedeck). Wiesler, cinzento e eficiente como o regime, cumpre com diligência a tarefa, e escuta tudo o que acontece em casa de Dreyman: a festa de aniversário, as conversas dos amigos intelectuais, a intimidade de Dreyman e Christa-Maria. A pouco e pouco, Wiesler começa a preencher a sua existência vazia com a vida dos outros. Gradualmente, vai perdendo a distância da tarefa. Quando descobre que Dreyman, movido pelo suicídio de um amigo encenador impedido de trabalhar, está a escrever um texto crítico para a revista da BRD
Der Spiegel, Wiesler não o entrega. Pelo contrário, enche os relatórios das escutas com os rascunhos fictícios de Dreyman para uma peça de teatro destinada à celebração dos 40 anos da DDR.
Naturalmente, depois de alguma tensão, a mentira é descoberta e o processo de escuta é encerrado com um acontecimento trágico. Mas este não é ainda o final do filme. Nem mesmo a queda do muro é o momento derradeiro da história. Afinal, Dreyman não sabe ainda que foi alvo de escuta da Stasi. E também não conhece Wiesler. Para estas revelações, Dreyman precisa do resto do filme.
Das Leben der Anderen é uma narrativa com um final, onde todos os fios se juntam num tecido perfeito, e em que todas as questões encontram uma resposta. Ou seja, o filme é tudo o que a vida não é. E essa é talvez a sua única falha: ser uma ficção tão real.
Particularidades e alguns momentos:
A música.
Dreyman ao piano, Christa-Maria de pé, ao lado. Sonate für den guten Menschen, uma homenagem ao amigo que lhe trouxe a pauta no aniversário, antes do suicídio. Dreyman cita Lenin: se ouvisse uma sonata de Bethoven até ao fim, não conseguiria terminar a revolução.
A insegurança da actriz Christa-Maria, que não a deixa ver como o público a reconhece. E o público, ein guter Mensch, que a ajuda a descobri-lo.
No refeitório da sede. Enquanto Wiesler e Grubitz conversam sobre a escuta a Dreyman, um jovem funcionário, sem se aperceber da presença dos dois, senta-se junto aos colegas e conta uma anedota sobre Honecker:
Eines Tages früh morgens grüsste Honecker die Sonne, als diese aufging:
"Guten Morgen, liebe Sonne!"
" Guten Morgen, lieber Erich!", erwiderte sie.
Später dann, bereits zu Mittag, grüsste Hocecker die Sonne erneut.
"Guten Tag, liebe Sonne!"
Und wie am Morgen grüsste ihn die Sonne zurück.
"Guten Tag, lieber Erich!"
Als es später wurde und bald der Mond kommen würde, grüsste Honecker die Sonne zum Abschied.
"Guten Abend, liebe Sonne!"
Aber die Sonne erwiderte seinen Gruss nicht. Er wiederholte:
"Guten Abend, liebe Sonne!"
Als sie weiter still blieb, fragte sie Honecker, warum sie ihn nicht grüsse.
Die Sonne sagte:
"Ach was! Jetzt brauche ich dich nicht mehr grüssen. Jetzt bin ich im Westen!"